O ano de 2023 foi marcado por grandes filmes dirigidos por mulheres, mas isso significa uma maior igualdade de gênero nas produções de Hollywood? É necessário ser realista frente à empolgação de ver diretoras ocupando o lugar atrás das câmeras. Apesar de Barbie, de Greta Gerwig, ter alcançado uma bilheteria global de mais de US$ 1,4 bilhões (a maior do ano) e de Vidas Passadas, de Celine Song, ter sido aclamado pelo público e pela crítica, recebendo a maior Metascore do ano, novos estudos mostram que o avanço dos estúdios na contratação de mulheres na direção de suas produções é quase inexistente.

Crescimento insuficiente

"Em mais de uma década e meia, a percentagem de mulheres em funções de direção não cresceu nem 10%." A afirmação é de Stacy L. Smith, da Annenberg Inclusion Initiative, da Universidade do Sul da Califórnia (USC), que monitora a situação na indústria desde 2007, quando a percentagem de mulheres diretoras era de 2.7%. O estudo da instituição estimou que, dos 100 top filmes de 2023, as mulheres representam apenas 12.1% dos diretores. E, igualmente assustador, é constatar que, dos 1769 diretores de 1700 filmes produzidos nos últimos 17 anos, 6% eram mulheres. "Esses números não são apenas dados em um gráfico. Eles representam mulheres reais e talentosas trabalhando para terem carreiras sustentáveis."

A investigação da Annenberg Inclusion Initiative também estudou a questão étnica e não encontrou melhora significativa na inclusão de diretores não-brancos, cuja percentagem foi de 22.4% em 2023. Mas, deste grupo, as mulheres não-brancas são as que encontram mais dificuldades para dirigir uma produção. Elas foram responsáveis pela direção de apenas 4 de 100 estreias nos cinemas em 2023: Vidas Passadas (Celine Song), As Marvels (Nia DaCosta), Loucas em Apuros (Adele Lim) e Wish (Fawn Veerasunthorn). A se notar que, apesar de apenas 19 mulheres não-brancas terem dirigido os top 100 filmes mais lucrativos nos últimos 17 anos, suas obras tem notas da crítica maiores do que a média de filmes dirigidos por homens brancos, mulheres brancas e homens não-brancos.

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Vidas Passadas © A24

Estúdios não contratam mulheres

Os estúdios apenas não contratam mulheres para dirigir seus filmes. De acordo com o relatório do Centro para o Estudo das Mulheres na Televisão e no Cinema da Universidade de San Diego, as mulheres representam apenas 22% de diretores, roteiristas, produtores, produtores executivos, editores e diretores de fotografia que trabalharam nos 250 filmes mais rentáveis do ano. O número representa uma queda de 2% em relação a 2022.

"Enquanto Barbie, de Greta Gerwig, reinou supremo como o filme número um em bilheteria, as mulheres continuam dramaticamente sub-representadas como diretoras, representando apenas 16% daqueles que trabalharam nas 250 top bilheterias e 14% nos 100 filmes mais rentáveis. É a ilusão definitiva, o triunfo bem merecido de Gerwig é uma representação falsa da desigualdade de gênero que permeia a indústria cinematográfica mainstream.", concluiu Martha Lauzen, que conduziu o estudo.

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Nia DaCosta © The Hollywood Reporter / Greta Gerwig © The Hollywood Reporter / Celine Song © Associated Press

Após os protestos do Black Lives Matter, em 2020, os grandes estúdios de Hollywood se comprometeram a reexaminar suas condutas de diversidade e inclusão em suas produções. Porém, as supostas medidas para igualdade de gênero em Hollywood ficam muito aquém do desejado, tanto que um outro relatório da Annenberg, intitulado Inclusion in the Director's Chair (Inclusão na Cadeira do Diretor), chamou tais promessas dos estúdios de "atos performativos" e concluiu que não se tratam de "passos reais para promover a mudança."

Ainda é possível ter uma postura otimista? Os autores da investigação da USC colocam na balança: "Um filme ou uma diretora simplesmente não são suficientes para criar a mudança radical que ainda é necessária atrás das câmeras. Até os estúdios, executivos e produtores alterarem o modo como tomam decisões sobre quem é qualificado e está disponível para trabalhar como diretor em filmes de maior bilheteria, há poucos motivos para acreditar que o otimismo seja justificado."