A atual franquia, que ressurgiu em 2011 com um filme dirigido por Rupert Wyatt, passou pelas mãos de Matt Reeves, até chegar agora em Wes Ball (conhecido por realizar a série Maze Runner). E pensar que tudo surgiu com Franklin J. Schaffner em 1968, é algo que impressiona o quão longe perdurou este universo fantástico - ou seria apenas uma crise criativa, considerando a reciclagem pop que Hollywood pratica nas últimas décadas? Planeta dos Macacos 4 (intitulado Planeta dos Macacos: O Reinado no Brasil e O Reino do Planeta dos Macacos em Portugal) desaponta consideravelmente, ao subestimar a capacidade associativa do espectador, entregando um filme que tenta se auto afirmar inteligente a todo momento.

Neste novo épico de Planetas dos Macacos - que se situa centenas de anos após o tempo narrativo do último filme - seres humanos não passam de uma espécie à margem, enquanto os macacos inteligentes dominam a paisagem pós-apocalíptica (e aqui o verde destoa neste cenário futurístico, se sobrepondo aos arranha céus destruídos e tomados pela vegetação). Tudo é selva, menos o grupo governado por Proximus César, que quer ser civilização. E para ser, entende que precisa agir como um verdadeiro tirano, reinterpretando a história de César (protagonista dos filmes anteriores), de maneira com que consiga justificar todo tipo de crueldade em prol da evolução da sua espécie.

Já do outro lado da história (e aqui tanto faz o significado da palavra história, sendo relacionada à narrativa da obra ou estudo científico do nosso passado) está Noa, um macaco de uma pequena aldeia cuja o estilo de vida é conectado à natureza e a rituais ancestrais. É Noa quem tem seu 'chamado do herói' e terá que arriscar sua vida para suspender os avanços do ditador Proximus, enquanto aprende o 'verdadeiro' legado de César. E no meio dos dois está a garota Nova, que serve como uma ponte entre os vícios e virtudes do que outrora foi a espécie humana. Uma antítese e também metáfora interessante, mas que peca justamente ao estampar essas questões de maneira rasa e exuberantemente didática na cara do espectador. Quase toda linha de diálogo do filme trabalha em prol disso, ao ponto de não nos surpreendermos com nada no seu previsível desfecho.

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Planeta dos Macacos: O Reinado ©20th Century Studios

Visualmente, sim, o longa impressiona. Por sinal, a franquia apostou, para este filme, em uma nova tecnologia onde os avatares virtuais duplicam exatamente as expressões faciais dos atores. Algo que destoa muito dos filmes anteriores? Não. Essa busca frenética dos estúdios pela tecnologia artificial mais realista possível somada à pretensão de deter o legado e o futuro do cinema fazem lembrar de algum personagem? Brincadeiras à parte, existem sim algumas boas sequências (secundárias) no longa de Wes Ball, principalmente quando a viagem de Noa se inicia, mas à medida em que o filme tenta inserir camadas e mais camadas, a apreciação sensitiva deixa de existir e tudo passa a ser mastigado, mas com a ilusão de profundidade.

Além disso tudo, o longa também acaba falhando no seu estudo de personagem e análise sociológica e comparativa à modernidade. Até mesmo a sensação permanente de tensão - característica dos últimos filmes - é substituída por uma espécie de momentos pontuais de susto. Quando um grande blockbuster se propõe a discutir algo grandioso como a história e sua mutabilidade permanente, é preciso mais do que tecnologia avançada, grandiosas sequências e personagens arquetípicos. E dessa destreza cinematográfica, propriamente da linguagem e da narrativa, o novo Planeta dos Macacos passou longe.

Com o título brasileiro Planeta dos Macacos: O Reinado, o filme estreia no dia 9 de maio nos cinemas. Em Portugal, estreia com o título O Reino do Planeta dos Macacos, também no mesmo dia.

★★
2/5