Os programas da Nickelodeon moldaram a infância e pré-adolescência de muita gente, Drake & Josh, Kenan & Kel, Zoey 101, iCarly, Manual de Sobrevivência Escolar do Ned, O Show da Amanda e Normal Demais são alguns dos seriados televisivos do canal que fizeram sucesso com o público infantojuvenil dos anos 2000. Por isso, as revelações da série documental Quiet on Set: O Lado Sombrio da TV Infantil, que mostra os abusos sofridos nos bastidores das produções e um ambiente de trabalho totalmente tóxico, choca tanto a quem assistia aos programas do canal.

A Nickelodeon foi responsável por lançar a carreira de vários atores, como Amanda Bynes, Drake Bell, Miranda Cosgroove, Ariana Grande, Josh Peck e Emma Roberts, que protagonizaram os seriados produzidos sob a asa de Dan Schneider, o produtor que foi desligado do canal em 2018, após denúncias de abuso e comportamento inapropriado no set.

Pela primeira vez, o ator Drake Bell, que vivia Drake na série sobre os irmãos Drake & Josh, fala publicamente sobre o abuso sexual sofrido pelo coach de diálogo e ator, Brian Peck. O depoimento comovente do ator, que foi violado aos 15 anos de idade pelo pedófilo condenado, compõem um dos 5 episódios da série que acabam de chegar à Max no Brasil.

Veja o teaser oficial legendado de Quiet on Set: O Lado Sombrio da TV Infantil, abaixo.

O que esperar da série

Os 5 episódios chegaram no streaming no dia 13 de abril, e focam nos bastidores dos programas da Nickelodeon dos anos 1990 e 2000, contando com entrevistas de ex-membros das equipes e ex-atores dos seriados, que discutem os alegados abusos e posturas tóxicas no set.

O principal caso é o do abuso sexual infantil sofrido por Drake Bell por parte do ator Brian Peck, que foi condenado a 16 meses de prisão e foi obrigado a se registrar como um agressor sexual, após não contestar as acusações de continuamente molestar Bell enquanto este ainda era menor de idade.

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Quiet on Set: O Lado Sombrio da TV Infantil © Max

A investigação

A ideia para Quiet on Set: O Lado Sombrio da TV Infantil surgiu após a cineasta Mary Robertson e sua equipe notarem uma onda de vídeos online feitos por amadores que reunia diversos clips de seriados da Nickelodeon dos anos 2000. Alguns continham imagens das atrizes mirins Ariana Grande e Jamie Lynn Spears performando atos nos seriados que pareciam ser de maneira “indiscutivelmente sexual”, disse Robertson à Glamour. "Aquilo que foi criado nesses aparelhos acabou por ser transmitido ao mundo e consumido por milhões de crianças e adultos, e influenciaria a sua noção do que era normal. Isso influenciaria seu conjunto de padrões.", disse.

Incomodada com o teor desadequado das imagens, que ela mesma assistira no canal quando era mais nova, Robertson e a jornalista Emma Schwartz resolveram investigar os bastidores dos programas comandados pelo produtor Dan Schneider. O resultado é a série em 5 partes (que inicialmente foi lançada com 4 episódios nos EUA, mas foi estendida, por tornar-se viral nas redes), que reúne diversas alegações de abuso emocional e assédio sexual por parte de Schneider além dos casos de predadores sexuais infantis condenados.

Um debate real

A ideia é que a série crie um debate que leve à mudanças reais no que toca o trabalho de atores mirins. "Para muitos participantes, parte da motivação em querer falar era a esperança de que isso possibilitasse mudanças. Eu sei que alguns dos participantes ficaram muito preocupados com o fato de não haver uma exigência de que os adultos no set passem por verificações de antecedentes.", disse Schwartz.

A documentarista pontua que a questão não está restrita ao ambiente das produções televisivas, mas também de conteúdo para a internet, em um mundo onde é mais e mais comum a produção, veiculação e monetização de imagens de menores de idade nas redes sociais. "E hoje em dia, não se trata apenas de sets. As pessoas obtêm seu conteúdo online ou nas redes sociais, e há crianças que são influenciadores ou seus pais os consideram influenciadores.", completou.