Taraji P. Henson é uma figura marcante da indústria cinematográfica de Hollywood há muitos anos, estrelando filmes como O Curioso Caso de Benjamin Button (pelo qual foi indicada ao Oscar), Larry Crowne - O Amor Está de Volta, Estrelas Além do Tempo e inúmeras séries. Seu mais recente trabalho é no aguardadíssimo A Cor Púrpura. Mas a atriz confessou que chegou em um ponto em que considera desistir da carreira e compartilhou algumas duras verdades sobre o mercado cinematográfico, em uma entrevista ao SiriusXM, com Gayle King.

Quando questionada sobre rumores de que ela estaria pensando em encerrar sua carreira como atriz, Henson não conseguiu conter as lágrimas. "Eu só estou cansada de trabalhar tão duro, ser gentil no que eu faço e ser paga uma fração do custo. Estou cansada de ouvir minhas irmãs falando a mesma coisa de novo e de novo. Você cansa. Eu escuto as pessoas dizendo, 'Você trabalha muito'. Bom, eu preciso. A matemática não fecha. Quando você começa a trabalhar muito, você passa a ter uma equipe. Grandes contas chegam com o que nós fazemos. Nós não fazemos isso sozinhos. Existe toda uma equipe por trás. Eles têm que ser pagos." A disparidade salarial ainda é um problema muito real em Hollywood, assim como nos outros mercados de trabalho, e Henson expõe que, até hoje, em cada novo projeto ela tem que construir uma negociação praticamente do zero.

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Taraji P. Henson em O Curioso Caso de Benjamin Button © Paramount Pictures

Disparidade salarial

Em 2019, Henson já havia alertado sobre a disparidade salarial ao revelar à Variety que recebera chocantes US$ 150 mil para interpretar Queenie em O Curioso Caso de Benjamin Button, performance pela qual ela foi indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante. Inicialmente, a oferta para estrelar ao lado de Brad Pitt e Cate Blanchett havia sido de US$ 100 mil, ao que ela conseguiu negociar em um valor que ficou ainda muito abaixo dos US$ 500 mil que ela esperava.

Sendo a terceira mais bem paga da obra de David Fincher, Henson deixou claro: "Eu não estou dizendo que Brad ou Cate não deveriam ter recebido o que receberam. Eles colocam pessoas nas poltronas do cinema, então dêem o dinheiro deles. Eles merecem. Eu não estou falando que eles não deveriam receber isso. Eu só estava pedindo meio milhão - só isso. Quando eu fiz O Curioso Caso de Benjamin Button, eu não valia um milhão ainda. Meu público ainda estava me conhecendo. Nós pensamos que estávamos pedindo o que era justo para mim, naquela época." O valor pode parecer alto para alguns, mas há de se considerar que não inclui dedução de impostos, que são meses de trabalho em um filme, e que não é raro conseguir no máximo um filme deste porte por ano.

Falta de investimento

Taraji P. Henson tocou ainda em outro ponto importante, de como a indústria dá um passo atrás quando se tratam de histórias negras com atores negros, cujos projetos frequentemente são ditos 'não terem visibilidade no exterior'. "Eu estou cansada de ouvir isso a minha carreira inteira. Mais de vinte anos no jogo e eu escuto a mesma coisa, e eu vejo o que vocês fazem por outra produção, mas quando chega a hora de lutar por nós, eles não têm dinheiro suficiente. E eu apenas devo sorrir e aguentar. Já chega!"

Blitz Bazawule, diretor de A Cor Púrpura apoiou Henson, declarando que teve que lutar por cada um dos atores, apesar de suas carreiras de sucesso. "O fato que cada um de vocês teve que fazer uma audição para os papéis...papéis que eram uma segunda natureza para vocês...papéis que ninguém nem deveria questionar."

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Taraji P. Henson em A Cor Púrpura © Warner Bros. Pictures

A Cor Púrpura

Deixando implícita essa luta por autonomia na escolha dos atores, Bazawule confessou: "Você tem que escolher direito. Se você é um diretor, é uma responsabilidade gigante, porque você será a pessoa com eles (atores), todos os dias. Ninguém deveria te falar quem escolher para esse trabalho. É um trabalho sagrado." Sobre A Cor Púrpura, a equipe se mostra muito satisfeita com o trabalho e na expectativa de compartilhar a obra com o público. "O presente de verdade é que o filme vai continuar oferecendo, e o trabalho que vocês fizeram nesse filme vai inspirar muito além do que nós podemos ver. No final das contas não existe nenhum prêmio que possam nos dar por isso. Sabendo o poder de cura que existe nesse trabalho. Porque nós todos nos juntamos em harmonia para fazer esse trabalho de cura."

Ao lado de Taraji P. Henson e Danielle Brooks (que interpreta Sofia), o diretor partilha um desejo: "Eu espero que o trabalho que nós fizemos quebre essas maneiras terríveis e discriminatórios. Que eles vejam que nós fizemos do nosso jeito e nós vencemos."

A versão musical de A Cor Púrpura, estreia em janeiro de 2024 nos cinemas brasileiros. Para ver a entrevista da equipe do longa na íntegra, assista ao vídeo abaixo.