Em 13 de outubro de 1972, um avião da força aérea uruguaia transportava uma jovem equipe amadora de rugby até o Chile, quando colidiu com as montanhas da maior cordilheira do mundo. A Sociedade da Neve revisita o acidente dos Andes que chocou o mundo em uma perspectiva diversa do filme Vivos, de 1993, que tem Ethan Hawke no elenco. É possível conferir as imagens inéditas no trailer divulgado pela Netflix (abaixo).
O longa é, inclusive, a obra selecionada pela Espanha para a competição do Oscar. O diretor espanhol, J. A. Bayona (O Impossível), levou uma década para realizar o filme, principalmente pela dificuldade em obter financiamento. A Sociedade da Neve inova na maneira de contar a história do acidente dos Andes, uma vez que trabalha de maneira próxima com os sobreviventes e familiares da vítimas e colabora com Pablo Vierci, autor do livro homônimo, que serviu como consultor. "Os sobreviventes foram fundamentais - o seu entusiasmo galvanizou o filme e o meu ponto de vista", disse Bayona ao Indiewire. "Nós atravessamos um processo emocionante e criativo juntos. Se surgissem quaisquer questões no set, Vierci pegava o telefone e conversava com as pessoas que experienciaram em primeira mão as situações que nós estávamos tentando recriar. Foi uma experiência única."
O acidente
O vôo 571 da força aérea uruguaia colidiu com a Cordilheira dos Andes há mais de 50 anos, em 13 de outubro de 1972. Ele carregava 5 membros da tripulação e 40 passageiros, dentre eles jovens de um time de rugby amador e seus amigos e familiares. Apenas 29 pessoas sobreviveram à queda do avião que, por um erro de cálculo de localização do piloto, perdeu as duas asas e a porção final do corpo do avião e deslizou em um vale dos Andes a 3.500 metros de altitude. Após 10 dias de buscas fracassadas na região as operações foram encerradas, pois acreditou-se ser impossível existirem sobreviventes naquelas condições. Em um ambiente totalmente inóspito e agressivo, sob temperaturas congelantes, aqueles que restaram estavam apenas no início de sua exaustiva batalha pela sobrevivência.
Durante as duas primeiras semanas, o grupo se alimentou do pouco que encontraram nos destroços, basicamente doces, chocolates e vinho. Com o tempo, a questão da comida tornou-se o principal obstáculo para a sobrevivência. Sem perspectiva de resgate, os restantes sobreviventes foram obrigados a recorrer ao canibalismo. Forçados a se alimentarem dos corpos de seus amigos, aqueles que ainda estavam vivos foram os primeiros a oferecerem-se para os colegas caso morressem. Ao todo, apenas 16 passageiros do vôo 571 sobreviveram.
Metáfora narrativa
Bayona explicou como incorporou o gesto de doação dos corpos para a sobrevivência no filme. "Nessa ideia, há algo de transcendental, pois é essa percepção inconsciente que você e eu somos a mesma coisa. Que se você viver, eu vivo. E eu pensei como seria interessante contar uma história que inicia com um personagem. E esse personagem dá a chance de outras pessoas terminarem a história. Você cria uma metáfora visual ou uma metáfora narrativa, onde o personagem pode ir embora e chegar ao final, graças aos seus amigos, e seus amigos são capazes de chegar lá graças a ele, o que é basicamente sobre o que é a essência da história."
A Sociedade da Neve teve sua estreia mundial no Festival Internacional de Cinema de Veneza. O filme é distribuído pela Netflix e ganhará um lançamento em cinemas selecionados em 14 de dezembro, chegando ao streaming no dia 04 de janeiro de 2024.
Assista ao trailer a seguir: