A Transformação de Canuto traz a misteriosa história do homem que virou onça para o registro documental, criando um dispositivo interessante de re-dramatização do folclore indígena no cinema. O longa-metragem premiado acaba de ganhar um trailer inédito, divulgado pela Descoloniza Filmes, que distribui a obra no Brasil.

Dirigido por Ariel Kuaray Ortega e Ernesto Carvalho, o longa-metragem foi destaque no Festival Internacional de Documentários de Amsterdã (IDFA), levando os prêmios de melhor filme na Competição Envision e o prêmio de contribuição artística excepcional. O longa ainda passou pelo Festival de Documentário de Taiwan, Cinelatino Toulouse, Festival de Cinema Jean Rouch e, no Brasil, fez sua estreia no Festival de Brasília e foi exibido no Festival de Tiradentes.

Sinopse

A Transformação de Canuto traz a lenda do homem transformado em animal que sofreu um fim terrível. Lê-se na sinopse oficial: "Em uma pequena comunidade Mbyá-Guarani entre o Brasil e a Argentina, todos conhecem o nome Canuto, um homem que, muitos anos atrás, transformou-se em onça e depois morreu tragicamente. Agora, a comunidade se reúne em torno da produção de um filme para retratar sua história. Por que isso aconteceu? Mas, mais importante ainda, quem daquela aldeia deve interpretar seu papel?"

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A Transformação de Canuto © Descoloniza Filmes

Desde sua ideia inicial, a docuficção levou mais de uma década para chegar ao seu formato final. Após sua estreia no festival holandês, os diretores concederam uma entrevista à Variety."Quando eu mencionei essa história para o Ernesto pela primeira vez, em 2009, eu não sabia o formato que eu queria para esse filme.", disse Ortega. "Nós mudávamos ele constantemente, porque não tínhamos certeza de como os habitantes locais iriam receber estranhos na sua aldeia. Nós também não tínhamos muitos recursos para re-dramatizar a história com atores, então nós tivemos que trabalhar com o que nós tínhamos."

Vídeo nas Aldeias

O coletivo Vídeo nas Aldeias foi criado por Vincent Carelli e colaboradores, sendo uma ONG já bem estabelecida, que leva workshops de vídeo para aldeias indígenas do Brasil.

"Nós estamos imersos nessas comunidades durante longos períodos de tempo e nunca requisitamos aos participantes saírem das suas aldeias e irem para a cidade. É um processo diário de misturar cinema com a rotina local.", explica Carvalho, que colabora criativamente com as tribos desde 2007. "Os filmes que nós fizemos circularam em festivais, foram exibidos na televisão e serviram como uma janela para a realidade indígena no Brasil."

O trabalho realizado pela Vídeo nas Aldeias tornou-se referência mundial. "Quando nós começamos a fazer esse trabalho, a expressão Cinema Indígena ainda não estava estabelecida. Hoje, não é apenas algo que existe, mas uma referência e um exemplo seguido por outros na América Latina e ao redor do mundo.", conta Carvalho.

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A Transformação de Canuto © Descoloniza Filmes

Ortega chama atenção para a romantização que algumas pessoas têm em relação ao Cinema Indígena e ressalta sua pluralidade. "Nós somos muitas tribos, fazendo muitos tipos de cinema. Só porque eu sou Guarani, as pessoas esperam que eu faça filmes sobre as belezas da terra, nossa música, nossos penteados intrincados... Há uma expectativa que eu evite os problemas reais que nós enfrentamos, incluindo as disputas territoriais. O meu cinema sempre foi político, sempre foi sobre a realidade indígena."

Lançamento e trailer

Ainda não há previsão de quando o filme chegará às salas de cinema. Veja o trailer a seguir.