Uma das peças do grande dramaturgo, escritor e jornalista brasileiro, Nelson Rodrigues, cruzará o continente para se tornar uma produção cinematográfica de Hollywood, confirma O Globo. O Beijo no Asfalto, peça encenada pela primeira vez em 1961, será adaptada pela Ashé, produtora que a atriz americana Viola Davis fundou em Salvador com o marido Julius Tennon, e da qual Maurício Mota, neto do dramaturgo, é sócio.

A peça icônica da dramaturgia brasileira será adaptada com um roteiro da irlandesa Kirsten Sheridan (Dollhouse) e a direção da produção ficará a cargo do cineasta brasileiro premiado Karim Aïnouz. "Sou completamente fascinado pelas histórias pequenas, do dia a dia, de nós, heróis anônimos, as histórias dos silêncios, das risadas e das cartas escritas de improviso", disse o diretor. "Acho que, quando falamos de Nelson Rodrigues, falamos de alguém que compartilha esse tipo de fascínio, talvez o melhor dos mestres para esse tipo de compreensão."

Mota trabalha desde 2010 em Los Angeles e foi nos EUA que descobriu que tinha em mãos uma propriedade intelectual (IP) muito valiosa. Desde então, com os outros herdeiros da obra de Nelson Rodrigues, tem colocado as produções do avô pelo mundo - Toda Nudez Será Castigada vai se tornar uma HQ pelas mãos de Leandro Assis, e O Beijo no Asfalto deve, também, virar um musical da Broadway.

O Beijo no Asfalto no cinema

A peça, escrita especialmente para o Teatro dos Sete, conta a história de Arandir, um homem comum cuja vida é despedaçada após oferecer um misericordioso beijo a um moribundo atropelado. O acontecido logo vira notícia na primeira página de um jornal sensacionalista, que distorce o ocorrido e questiona a orientação sexual do personagem. As consequências se agravam quando a polícia começa uma investigação e a história é cada vez mais distorcida, colocando a vida de Arandir e de sua família à beira de um precipício.

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O Beijo no Asfalto (1981) © Embrafilme

O texto em questão já foi adaptado para o cinema três vezes, em produções nacionais. A primeira foi em 1964, com direção de Flávio Tambellini e Reginaldo Faria, Norma Blum, Xandó Batista e Jorge Dória nos papeis principais. Em 1981, Bruno Barreto dirigiu o longa-metragem que acompanha o declínio de Arandir, o elenco conta com Ney Latorraca, Tarcísio Meira, Christiane Torloni, Lídia Brondi e Daniel Filho. Já em 2018, Murilo Benício adaptou a peça, filmando em preto e branco e com Lázaro Ramos no papel de Arandir, além de Stênio Garcia, Débora Falabella, Luiza Tiso, Otávio Müller e Fernanda Montenegro no elenco.

"De todas as peças (para possível adaptação em Hollywood), selecionei O Beijo no Asfalto porque é simples, mas muito sofisticada", contou Mota em entrevista. "É sobre homofobia e fake news. Foi a melhor escolha que poderia ter feito." A nova versão da obra será falada em inglês, mas ainda não há confirmação de elenco. Uma data de lançamento para a adaptação cinematográfica do clássico não foi divulgada.