The Fall Guy (traduzido no Brasil como O Dublê e em Portugal como Profissão: Perigo), filme baseado em uma série norte-americana dos anos 80, tem tudo para ser uma febre pop. Dirigido por David Leitch (Deadpool 2), o longa surfa na onda do fenômeno Barbenheimer na tentativa de continuar atraindo o grande público de volta aos cinemas, para assistir aos 'novos blckbusters'.

É evidente que comparar formalmente o filme de Leitch com Barbie e Oppenheimer, seria uma loucura. Mas se tem algo que as obras de Greta e Nolan mostraram, é que o cinema mainstream para a grande tela não está morto. É com esta ideia que Leitch junta o ator coadjuvante de Barbie (Ryan Gosling) e a atriz coadjuvante de Oppenheimer (Emily Blunt), para uma comédia de ação que serve como uma grande homenagem aos 'mega-artesãos' do cinema mainstream.

Agora fica muito mais claro que as peças cômicas que Gosling e Blunt apresentaram juntos, recentemente, na cerimônia do Oscar e também no Saturday Night Live (SNL), foram uma espécie de preparação de terreno para o que estava por vir. E o que veio surpreendeu.

Ryan Gosling interpreta um dublê de filmes de ação, chamado Colt Seavers, que após um grave acidente de set e meses parado, volta para atuar no mais novo filme de Jody Moreno (Emily Blunt) - diretora pela qual ele é apaixonado e viveu uma espécie de 'lance' antes de se acidentar. À pedido da produtora Gail Meyer (Hannah Waddingham), Colt viaja para a Austrália, onde o filme está sendo gravado, com o desafio de não só voltar a ser o melhor dublê de todos, mas também de encontrar a estrela do filme Tom Ryder (Aaron Taylor-Johnson) - que desapareceu durante as filmagens, e ainda reconquistar a sua amada.

Com uma química ímpar e um tom cômico cínico e despretensioso, o casal Gosling e Blunt constrói uma relação de cumplicidade na tela, que serve como uma espécie de ponte de equilíbrio para as diversas e exageradas cenas de ação. Mesmo que a sequência inicial, com uma narração off pedante e autoexplicativa, do personagem Colt Seavers se apresentando, deixe uma pequena má impressão, não há como não se render ao excelente timing cômico que Ryan Gosling demonstra ao longo do filme.

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The Fall Guy © Universal Pictures

David Leitch encontrou, através da figura do dublê e também da própria metalinguagem do filme dentro do filme (por mais superado que isso possa parecer), um veículo interessante para trabalhar com algumas metáforas do próprio cinema, que vão desde a relação dos dois personagens principais, passando pela concepção formal de um filme de ação, e também pela discussão do uso da Inteligência Artificial. E o melhor, tudo isso, sem se levar muito a sério - aspecto este que a indústria do entretenimento parecia ter se esquecido.

Todo o exagero do filme é acompanhado pela precisão técnica humana. As enormes sequências de ação, com uma série de explosões em practical effects (efeitos especiais sem o uso de computação gráfica), e com piruetas absurdas por parte dos dublês, buscam a todo momento evidenciar a importância humana no processo de produção de um grande blockbuster. Até mesmo o uso condenável de deep fake em um dado momento do filme, escancara ao espectador essa questão tão latente na indústria cinematográfica.

É um filme que, de forma geral, é bem executado, diverte e funciona como um bom entretenimento. Além, claro, de conseguir se apropriar de diversas manifestações emergentes que rodeiam a grande indústria de Hollywood (o fenômeno Barbenheimer, os ‘novos’ blockbusters reocupando o lugar dos filmes de super-herói, a categoria de dublê inserida no Oscar, entre tantas outras). No entanto, ao mesmo tempo, é um filme curioso e que complexifica ainda mais a discussão, principalmente em relação ao uso de IA. Afinal, não eram os estúdios que queriam a entrada abrupta da Inteligência Artificial no cinema?

Com o título brasileiro O Dublê, o filme estreia no dia 2 de maio nos cinemas brasileiros. Em Portugal, estreia com o título Profissão: Perigo no dia 1 de maio.

★★★
3/5