Vencedor do Grande Prêmio do Júri em Cannes e indicado a cinco categorias no Oscar, Zona de Interesse já provou ser um dos grandes filmes da última temporada. No entanto, diferente de longas como 1917 e Nada de Novo no Front, a nova obra de Jonathan Glazer traz inúmeras inovações formais para o gênero, que tendem a impactar as futuras produções de 'filmes de guerra'.

Estreado no dia 15 de fevereiro nos cinemas brasileiros, Zona de Interesse acompanha o cotidiano da família do comandante de Auschwitz, Rudolf Höss (Christian Friedel). Junto de sua esposa Hedwig (Sandra Hüller), e seus filhos, o militar nazista divide o seu dia entre o trabalho no campo de concentração e estar com a sua família em casa - locais separados apenas por um muro. Ao acompanharmos a rotina de dentro da casa do casal, nos deparamos com a tentativa desta família de criar um ambiente perfeito, enquanto do outro lado do muro, crimes humanitários são cometidos.

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Zona de Interesse © A24

Sem precisar levar a câmera para dentro de Auschwitz, apelando para imagens gráficas e dramáticas, Glazer opta por nos apresentar uma violência 'não vista' na tela. Diferente do que nos acostumamos a ver em um filme hollywoodiano de guerra, Zona de Interesse propõe-se a construir o incômodo através de elementos não dramáticos, mas que circundam a trama e o filme. É como se o diretor nos dissesse que é preciso se distanciar um pouco, para poder se aproximar de verdade do horror do holocausto.

O espectador não testemunha a violência, mas sim espiona ela permeada em todas as relações do dia a dia daquela família, que afinal, dividia o muro com Auschwitz. Ao Screen Daily, Jonathan Glazer conta que se interessou pela história de um comandante que morava ao lado do campo de concentração, mas que não estava interessado em fazer um filme que retratasse de forma concreta a violência permeada contra os judeus.

"Percebi que nos colocaríamos do lado do muro do perpetrador e contaríamos uma história a partir daí. E iríamos ouvir as atrocidades cometidas no campo, mas não as veríamos. Eu sabia que, internamente, haveria algo muito interessante em nada acontecer", disse o diretor.

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Em tempos onde somos bombardeados por imagens e a busca pelo realismo se transformou em algo mandatório, é curioso que um filme que subverta essas convenções, consiga se conectar de forma mais direta com a realidade da violência. Ao propor ao espectador uma experiência cotidiana dentro da casa da família do comandante nazista, Glazer consegue traçar uma linha de identificação entre os personagens e quem os observa. Para nos relembrar de que aqueles que perpetuam a violência, também são humanos - ideia que Hollywood muitas vezes não tem interesse em trabalhar.

"Tentei fazer tudo o que pude para realizar um filme que nos lembrasse da nossa capacidade para a violência, de como o perpetrador é semelhante a nós e de como isso é assustador", afirmou o autor.

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Com uma repercussão gigantesca ao redor do mundo, Zona de Interesse conseguiu furar a bolha da Academia. Muito por conta, claro, de ter sido produzido pela respeitada produtora A24. Resta saber agora, se o inventivo filme de Glazer terá algum tipo de impacto em futuras produções norte-americanas, ou se os grandes produtores continuarão investindo apenas em 'filmes de guerra' exageradamente dramáticos e apelativos.